Eles sempre se encontram ali, e, no terceiro dia todos estão lá, aguardando o sinal. No 3º mês do ano, quando a lua e o sol se encontram ao meio-dia, eles põem-se a andar e se encontram. Caminham 20 dias, voltando a ser nômades, e realizando a 1º marcha, a ‘Marcha das Longas Caravanas’. Os icebergs, enormes, atrapalham o caminho, mas nunca eles se perdem. As caravanas vindas dos 4 cantos do horizonte se encontram, praticamente no mesmo dia, na mesma hora, no mesmo lugar, como por mágica, no lugar aonde nasceram. E sobre o Oamock que se encontram anualmente para gerar vida, não há lugar mais seguro. Cada um procura um parceiro, para casarem até o próximo ano. Por haver menos machos, as fêmeas disputam para chamar atenção. Os que já têm par, se isolam, para começar o baile de inverno. Durante os 9 meses eles hão de se perder e de se reencontrar, e se sua dança for harmoniosa, sobreviverão. Os que se perdem das caravanas – os retardatários e fracos – estão condenados, e logo se perdem no branco. Passado 3 luas, a fêmea põe o ovo. Ele só resiste alguns segundos no chão gelado; alguns casais desajeitados, apressados ou azarados, destroem o ovo, perdendo-o para sempre. Para eles tudo acabou, e o ano está perdido. Mas outros que ensaiaram a entrega ao parceiro, com cuidado e delicadeza, passam o ovo. A fêmea volta ao mar e o macho fica a espera da fêmea, para alimentar o filhote. Ocorre então a 2º marcha, a ‘Marcha do Crepúsculo’. O casal se separa pela primeira vez. Dois meses de separação para preservar a vida. Após alguns dias o céu se fecha e o inverno se aproxima. Os machos se amontoam e tentam resistir à tempestade. Alguns perdem os ovos. As fêmeas acham a água e nadam em busca dos peixes; porém algumas morrem pelo predador, e sendo assim, seu filho morrerá de fome. Os machos, 3 meses sem comer, engolem neve fresca, trazida pelo vento. Muitos não resistem e morrem. Se juntam de novo por mais uma tempestade. Chega a hora das fêmeas voltarem, ocorrendo a 3º marcha, a ‘Marcha da Lua’. Os machos acordam, vêem que a luz retornou. Estes venceram o inverno. Os pingüins estão nascendo. Andam em círculos para mudarem de lugar. Os pingüins estão famintos. Há 4 meses os machos não comem, estão com pouca energia para andar por mais 20 dias. A fome é tanta que se a mãe não voltar, terá que abandonar seu filhote. Mas antes de desistir, ainda resta uma chance: uma reserva oculta, migalhas da profundeza do corpo, mesmo após meses de fome. Assim o pequeno pingüim tem mais algumas horas de vida. Para alguns já é tarde, os pequenos pingüins já estão mortos. As fêmeas se apressam, e logo chegam ao Oamock. Então procuram o macho e o filhote, que pelo som, sabe que são seus filhos. Os machos dão os pinguins às mães e logo se despedem para mais uma separação. Os filhotes comem, e os machos se vão, nos trechos mais perigosos da viagem: a 4º marcha, a ‘Marcha dos Famintos’. A luz então se intensifica. Com o sol os filhotes ficam mais fortes, apesar de ainda precisarem do calor da mãe. Passam-se 20 dias e os filhotes andam sozinhos. E logo ocorre a 5º marcha, a primeira marcha dos filhotes, a ‘Marcha do Filhote Livre’. Muitos morrem por conta do frio. A maioria das fêmeas não suportam, indo roubar o filhote de outra. Após um mês os filhotes aprendem a se esquentar sozinhos. As mães deixam os filhos para pescar, e logo ‘diz’ que os filhotes reconhecerão seus pais pela voz. Porém logo chegam os predadores e para se defenderem precisam se agrupar. Muitos morrem. Logo os pais voltam, e pelo som se reconhecem. Depois que se reencontram, bailam mais uma vez. O gelo derrete e é hora de se despedir. Acontece então a última marcha, a ‘Marcha da Separação’. Cada um vai para o seu lado, e voltam à água. E no próximo ano, no 3º mês, eles deixarão o mar para caminhar. E como os pais, voltarão ali, para a dança da vida. Sob o mais violento dos invernos. Perpetuando assim a marcha dos pingüins.
~Eles passam 4 anos no mar. Onde, é um mistério. Só se sabe que já adultos retornam ao mesmo lugar, como por mágica.
#parabéns para quem leu tudo isso ._.
